31 outubro 2010

O Senhor, amigo da vida!

A Palavra de Deus desse Domingo, o 31° do Tempo Comum, é um convite a refletirmos e colocarmos em consonância a nossa vida com o projeto de Deus para nós, ou seja para que tenhamos vida em abundância.
Na primeira leitura, extraída do Livro da Sabedoria, vemos um discurso voltado ao povo exalatando o Senhor como Deus da vida, e de todo o criado. Nesse todo criado nada escpa ao seus olhos e somos convidados a voltarmos o olhar para Deus e reconhecer nele o princípio e fim de todas as coisas.
no Evangelho de Lucas, Jesus se encontra com Zaqueu e manifesta toda a gratuidade de um amor que não está vinculado a preconceitos ou preferencias, mas principalmente na capacidades que as pessoas tem de mudar a realidade que se lhes acercam. Cristo é o Deus encarnado que veio resgatar os perdidos, e propor a cada um que aceita recebê-lo em sua "casa", aqui entendamos a nossa vida, uma mudança de atitude frente à verdade, e ao que abraça a Verdade, que é Ele mesmo, Jesus, a garantia da salvação.
Portanto, Jesus deseja entrar na nossa existência, caso permitamos faremos a experiência de Deus que habita em nós, age através de nós, e manifesta o seu amor pelas nossas mãos. Abramo-nos e façamos de nós motivo de alegria e salavação para todos os que se nos achegarem, pois assim estaremos promovendo vida, vida que não se resume a pessoas adultas e/ou natureza, mas a vida fecundada, que tem direito de nascer, a vida que está no seu ocaso que tem direito chagar ao seu termo na dignidade de pessoa, a vida que está machucada na prostituição, nos vícios, nas sargetas, nas realidades duras de indignidade promovida pelo nosso silêncio, pela nossa conveniência, pelo nosso modo funesto de se portar frente ao bem maior e fundamental que é o viver e deixar viver.

30 outubro 2010

Política e Fé se tocam

Cidade do Vaticano, 30 out (RV) - Os brasileiros retornam às urnas neste fim de semana para o segundo turno das eleições que determinarão quem será o próximo presidente do Brasil e em alguns Estados o governador.

Uma campanha eleitoral longa, difícil e em muitos casos demais de agressiva. Agora chegou o momento decisivo, e o povo brasileiro é chamado a dar a sua resposta a tantas indagações, a tantas perguntas que ainda não tiveram respostas. Quem será o novo líder do Brasil? O Brasil mudará, crescerá ainda mais? O pobre terá o seu lugar em uma sociedade onde a economia cresce a olhos vistos? A dignidade da pessoa será o centro da atenção das novas políticas? A religião continuará a cumprir com o seu papel, ou continuará, como em muitos casos, vista como algo individual e não coletivo.

Política e fé se tocam, reafirmou nesta semana o Papa Bento XVI no seu discurso aos bispos do Regional Nordeste 5 da CNBB, quase reafirmando a posição tomada nos meses passados pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que através de sua Presidência, sublinhou que a mesma “não indica nenhum candidato, e que a escolha é um ato livre e consciente de cada cidadão”. Diante de tão grande responsabilidade, exortou os fiéis católicos a terem presentes critérios éticos, entre os quais se incluem especialmente o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana.

O Papa, como representante de Cristo, fez presente aos nossos ouvidos a frase do Senhor “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. No seu discurso aos bispos brasileiros Bento XVI deixou claro que a missão da política, como significa o próprio termo, é cuidar das coisas terrenas, da Cidade dos Homens, como dizia Santo Agostinho, mas, ao mesmo tempo, tendo consciência de que esse cuidar deve ter como orientação a dimensão espiritual do Homem sua pertença a Deus. Por isso, principalmente nesta véspera de eleições, o espiritual deverá iluminar a consciência que, guiada pelos princípios cristãos, elegerá quem conduzirá a Pátria nos próximos anos.

Concluímos com as palavras do Santo Padre que confiou a Nossa Senhora Aparecida, os anseios da Igreja Católica na Terra de Santa Cruz e de todos os homens de boa vontade em defesa dos valores da vida humana e da sua transcendência, junto com as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens e mulheres do nosso país. (SP)

29 outubro 2010

Defender os valores fundamentais, um ato democrático.

Segue na íntegra o discurso do Papa aos bispos do Regional Nordeste 5 (formado pelo Estado do Maranhão), em visita ad Limina, recebidos esta manhã, no Vaticano.


Amados Irmãos no Episcopado,

«Para vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo» (2 Cor 1, 2). Desejo antes de mais nada agradecer a Deus pelo vosso zelo e dedicação a Cristo e à sua Igreja que cresce no Regional Nordeste 5. Lendo os vossos relatórios, pude dar-me conta dos problemas de caráter religioso e pastoral, além de humano e social, com que deveis medir-vos diariamente. O quadro geral tem as suas sombras, mas tem também sinais de esperança, como Dom Xavier Gilles acaba de referir na saudação que me dirigiu, dando livre curso aos sentimentos de todos vós e do vosso povo.

Como sabeis, nos sucessivos encontros com os diversos Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tenho sublinhado diferentes âmbitos e respectivos agentes do multiforme serviço evangelizador e pastoral da Igreja na vossa grande Nação; hoje, gostaria de falar-vos de como a Igreja, na sua missão de fecundar e fermentar a sociedade humana com o Evangelho, ensina ao homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação à união com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz social, conforme à sabedoria divina.

Entretanto, o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos, que, como cidadãos livres e responsáveis, se empenham em contribuir para a reta configuração da vida social, no respeito da sua legítima autonomia e da ordem moral natural (cf. Deus caritas est, 29). O vosso dever como Bispos junto com o vosso clero é mediato, enquanto vos compete contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias para a construção de uma sociedade justa e fraterna. Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas (cf. GS, 76).

Ao formular esses juízos, os pastores devem levar em conta o valor absoluto daqueles preceitos morais negativos que declaram moralmente inaceitável a escolha de uma determinada ação intrinsecamente má e incompatível com a dignidade da pessoa; tal escolha não pode ser resgatada pela bondade de qualquer fim, intenção, conseqüência ou circunstância. Portanto, seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até à morte natural (cf. Christifideles laici, 38). Além disso no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos, quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal? Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases (cf. Evangelium vitæ, 74). Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida «não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambigüidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo» (ibidem, 82).

Além disso, para melhor ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político de um modo unitário e coerente, é «necessária — como vos disse em Aparecida — uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito útil para isso o "Compêndio da Doutrina Social da Igreja"» (Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 3). Isto significa também que em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. GS, 75).
Neste ponto, política e fé se tocam. A fé tem, sem dúvida, a sua natureza específica de encontro com o Deus vivo que abre novos horizontes muito para além do âmbito próprio da razão. «Com efeito, sem a correção oferecida pela religião até a razão pode tornar-se vítima de ambigüidades, como acontece quando ela é manipulada pela ideologia, ou então aplicada de uma maneira parcial, sem ter em consideração plenamente a dignidade da pessoa humana» (Viagem Apostólica ao Reino Unido, Encontro com as autoridades civis, 17-IX-2010).

Só respeitando, promovendo e ensinando incansavelmente a natureza transcendente da pessoa humana é que uma sociedade pode ser construída. Assim, Deus deve «encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política» (Caritas in veritate, 56). Por isso, amados Irmãos, uno a minha voz à vossa num vivo apelo a favor da educação religiosa, e mais concretamente do ensino confessional e plural da religião, na escola pública do Estado.

Queria ainda recordar que a presença de símbolos religiosos na vida pública é ao mesmo tempo lembrança da transcendência do homem e garantia do seu respeito. Eles têm um valor particular, no caso do Brasil, em que a religião católica é parte integral da sua história. Como não pensar neste momento na imagem de Jesus Cristo com os braços estendidos sobre a baía da Guanabara que representa a hospitalidade e o amor com que o Brasil sempre soube abrir seus braços a homens e mulheres perseguidos e necessitados provenientes de todo o mundo? Foi nessa presença de Jesus na vida brasileira, que eles se integraram harmonicamente na sociedade, contribuindo ao enriquecimento da cultura, ao crescimento econômico e ao espírito de solidariedade e liberdade.

Amados Irmãos, confio à Mãe de Deus e nossa, invocada no Brasil sob o título de Nossa Senhora Aparecida, estes anseios da Igreja Católica na Terra de Santa Cruz e de todos os homens de boa vontade em defesa dos valores da vida humana e da sua transcendência, junto com as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens e mulheres da província eclesiástica do Maranhão. A todos coloco sob a Sua materna proteção, e a vós e ao vosso povo concedo a minha Benção Apostólica.
 
fonte: www.vatican.va

25 outubro 2010

O Roubo do Infinito

Por esses dias tive acesso a um texto de Mario Quintana sobre o aborto que muito me chamou a atenção, principalmente uma frase em especial. Dizia ele: "O aborto não é, como dizem, simplesmente um assassinato. É um roubo... Nem pode haver roubo maior. Porque, ao malogrado nascituro, rouba-se-lhe este mundo, o céu, as estrelas, o universo, tudo. O aborto é o roubo infinito".
Roubar o infinito é extremamente conflitante, pois, tirar o que é eterno é tomar para si os poderes de Deus, é fazer-se soberano, é colocar-se numa condição de superioridade a todo criado. Quando nos permitimos isso perdemos o senso do humano, e entramos num processo de plena discordância com o que somos e com o que aquilo que queremos. Ouvimos das pessoas em geral os mais sinceros sentimentos de se bem estar, de solidariedade, de que as pessoas sejam felizes... porém comungar com idéias abortistas é a mais pura hiprocrisia, pois tudo de bom que foi cultivado pelas palavras de bem estar, torna-se vazia nas atitudes e idéias que comungam com a morte.
Vamos permitir a vida florescer ao invéns de nos tornarmos ladrões e ladras de infinitos... vamos permitir que a vida se faça vida... vamos permitir que o ser seja em plenitude de vida, pois como disse Fernando Sabino: Matar não é tão grave como impedir que alguém nasça, tirar a sua única oportunidade de ser. O aborto é o mais horrendo e abjeto dos crimes. Nada mais terrível do que não ter nascido!

24 outubro 2010

A medida é não medir

É interessante perceber a capacidade que temos de medir os outros com as nossas medidas que nem sempre são medidas justas, honestas e verdadeiras. No Evanegelho desse domingo, o 30º do Tempo Comum, temos a figura do fariseu e do Cobrador de Impostos inseridos numa parábola que Jesus conta para mostrar aos ouvintes, discípulos e quem mais interessar, o que realmente importa, ou seja, a capacidade de se colocar diante de Deus sem se vangloriar, medir ou comparar com os outros, mas. simplesmente consigo mesmo, seus atos e consciência.

"9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10"Dois homens subiram ao templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. 11O fariseu, de, pé, rezava assim em seu íntimo: 'Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda'. 13O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: 'Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!' 14Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado". (Lc 18, 9-14)

Sendo assim, o Senhor nos faz repensar nossas atitudes frente ao julgamento desprecavido de autoridade e de responsabilidade, pois como diz o livro do Eclesiástico: O Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. (Eclo 35, 15) Um dos maiores desafios que podemos ter é conviver com o diferente, com o que erra, com o que não se encaixa nos parâmetros da nossa régua, dos nossos níveis de medição particular e individual e da nossa pitada de maldade inserida em tal julgamento ou realidade.

Vençamos pelo exercício da humildade e caridade os resquicios de soberba, avareza, auto-suficiência e de falta de compaixão.

23 outubro 2010

O Lugar do “Logos” de Deus em Jesus Cristo

***

“In principio erat Verbum, et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum. Et Verbum caro factum est et habitavit in nobis”. (Jo 1, 1.14)

“No Princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. (Jo 1, 1. 14)

Temos no prólogo do Evangelho de São João, o único evangelista que trata Jesus Cristo como o Verbo – Logos, nos seus escritos no Novo Testamento. A palavra de Jesus, ou seja, a palavra anunciada por ele, desempenha em todo o Evangelho de João um papel tão importante que quase não pode admitir-se que o evangelista deixa de pensar nesta “Palavra” quando no prólogo identifica o Logos com Jesus. Jesus não somente traz a revelação, mas, ele é a revelação.
“No princípio Deus criou o céu e a terra... e um sopro de Deus agitava a superfície das águas. Deus disse...” (Gn 1,1-3).


A palavra de Deus é ação concreta, ela constrói, edifica, dá vida, origina, e é lá, na própria palavra que se encontra o Verbo criador, que, seguindo a ordem do Criador, tudo realiza. Mas poderíamos nos perguntar: de onde João buscou elementos para fazer essa analogia do Cristo Jesus, como o Logos de Deus, que se encarna e habita em nosso meio?
Sabemos que nos situamos no tempo e no espaço. Com o Discípulo amado não foi diferente. Para explicar a origem da noção joanina do Logos, devemos contar com a probabilidade de três esferas de influências:

1 – Heráclito: Os filósofos estóicos foram os primeiros a considerar a filosofia um sistema, isto é, um todo, ensinando que a sua divisão em partes tem finalidade puramente didática.
No que diz respeito à física, descreveram um princípio que chamaram de pneuma (sopro vital que Heráclito atribuiu ao fogo), que está em todo o universo, no céu e na terra; trata-se de uma espécie de fluido que age por tensão (tonus), como se fosse um campo de força, mantendo unidas as partes do universo, impedindo, assim, que elas se dispersem no vazio; mantém também a individualidade de cada ser como se fosse a sua alma. É o Logos, a alma do mundo, que é corpórea e penetra toda matéria.
Heráclito afirma a unidade de todas as coisas: do separado e do não separado, do gerado e do não gerado, do mortal e do imortal, do Logos e do eterno, do pai e do filho, de Deus e da injustiça. “É sábio que os que ouviram, não a mim, mas ao Logos, reconheçam que todas as coisas são um”.
O que diz o Logos, do qual Heráclito se faz o anunciador e em nome do qual condena o torpor da multidão ou a polimatia dos supostos sábios, é isto: a unidade fundamental de todas as coisas. Essa é “a natureza que gosta de se ocultar”. Mas a noção de unidade fundamental, subjacente à multiplicidade aparente, já estava expressa pelo menos desde Anaximandro de Mileto. A novidade trazida por Heráclito - e que lhe permite julgar tão duramente seus antecessores e contemporâneos - está, na verdade, em considerar aquela unidade como uma unidade de tensões opostas. Esta teria sido sua grande descoberta: existe uma harmonia oculta das forças opostas, “como a do arco e da lira”. A Razão (Logos) consistiria precisamente na unidade profunda que as oposições aparentes ocultam e sugerem: os contrários, em todos os níveis da realidade, seriam aspectos inerentes a essa unidade. Não se trata, pois, de opor o Um ao Múltiplo, como Xenófanes e o eleatismo: o Um penetra o Múltiplo e a multiplicidade é apenas uma forma da unidade, ou melhor, a própria unidade. Daí a insuficiência do uso corrente das palavras: somente o logos (razão-discurso) do filósofo consegue apreender e formular - não ao ouvido, mas, ao espírito, não diretamente, mas, por via de sugestões sibilinas - aquela simultaneidade do múltiplo (mostrado pelos sentidos) e da unidade fundamental (descortinada pela inteligência desperta, em “vigília”).
Proclama Heráclito: “É sábio escutar não a mim, mas a meu discurso (logos), e confessar que todas as coisas são Um”. O Logos seria a unidade nas mudanças e nas tensões, a reger todos os planos da realidade: o físico, o biológico, o psicológico, o político, o moral. É a unidade nas transformações: “Deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, superabundância-fome; mas ele assume formas variadas, do mesmo modo que o fogo, quando misturado a arômatas, é denominado segundo os perfumes de cada um deles”. Numa série de aforismos, Heráclito enfatiza o caráter mutável da realidade, repetindo uma tese que já surgira nos mitos arcaicos e, com dimensão filosófica, desde os milesianos. Mas em Heráclito a noção de fluxo universal torna-se um mote insistentemente glosado: “Tu não podes descer duas vezes no mesmo rio, porque novas águas correm sempre sobre ti”. O império do Logos em sua feição física aparece então como as transformações do fogo, que são “em primeiro lugar, mar; e a metade do mar é terra e a outra metade vento turbilhonante”. O Logos-Fogo exerce uma função de racionalização nas trocas substanciais análoga à que a moeda vinha desempenhando na Grécia, desde o século VII: “Todas as coisas são trocadas em fogo e o fogo se troca em todas as coisas, como as mercadorias se trocam por ouro e o ouro é trocado por mercadorias”. Todavia, as transformações que integram o fluxo universal não significam desgoverno e desordem; elo contrário, o Logos-Fogo é também Razão universal e, por isso, impõe medida ao fluxo: “Este mundo (...) foi sempre, é e será sempre um fogo eternamente vivo, que se acende com medida e se apaga com medida”. A regularidade e a medida são garantidas pela simultaneidade dos dois caminhos de transformação que compõem o fluxo universal: é ao mesmo tempo que ocorre a troca do fogo em todas as coisas e de todas as coisas em fogo, pois “o caminho para o alto e o caminho para baixo são um e o mesmo”. Isso permite então afirmar: “...e a, metade do mar é terra, a metade vento turbilhonante”. Assim, o que garante a tensão intrínseca às coisas é aquilo mesmo que as sustenta: a medida imposta pelo Logos, essa “harmonia oculta” que “vale mais que harmonia aberta”.
São João que morava em Efeso, pode ter empregado essa palavra assaz divulgada, embora dando-lhe um outro conteúdo. Visto que o termo Logos, constitui uma noção importante e vários sistemas gnósticos, os quais aliás, muitas vezes alegam o texto de S. João, alguns críticos – Reitzenstein, Shaeder, Bousset, Bultmann – opinaram que todos aqueles sistemas, como também São João – e até a doutrina dos livros sapienciais – tiveram a sua raiz numa doutrina comum gnóstica – sobre um ser divino, enviado pelo Deus supremo a fim de revelar o conhecimento de Deus e de ser intermediário da salvação.
Primeiramente devemos observar que nenhum texto gnóstico hoje conhecido pode ser considerado como fonte do quarto Evangelho, ao passo que vários gnósticos dependem do prólogo joanino. A existência de uma gnose pré-cristã, judaica, continua hipotética; de outro lado deve-se supor que o termo originariamente filosófico de Logos se enriqueceu sincreticamente com toda a espécie de noções mitológicas. São João pode ter lançado mão de tal termo que, portanto, pode ser qualificado vagamente como “gnóstico”, mas foi para formular as suas próprias idéias teológicas.
2 – Judaísmo: Quanto ao Judaísmo, alega-se a expressão “memrã” (palavra) do Senhor, nos targuns. Essa formula substitui o nome “Javé”, para salvaguardar a transcendência divina. Essa “memrã” no entanto, não se deve interpretar como uma hipóstase divina, quando muito pode tratar-se de uma personificação poética, como afirma Hamp. De outro lado é em possível que São João tenha ouvido a expressão “’memrã’ do Senhor” no culto sinagogal, nas paráfrases aramaicas da Torah ou dos profetas, isso poderia explicar o uso do termo em Apocalipse 19, 13: “... e o nome com que é chamado é Verbo de Deus”.
Unicamente no campo da concepção Alexandrina, no judaísmo helenístico, é que encontramos verdadeiramente o Logos ou a sabedoria convertidos em hipóstases. A própria Sabedoria diz: “O Senhor me criou no início de sua obra, antes de suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes do começo da terra... antes de haver abismos, eu nasci, e antes ainda de haver fontes carregadas de água. Antes que os montes fossem firmados, antes de haver outeiros, eu nasci. Ainda Ele não tinha feito a terra, nem as amplidões, nem sequer o princípio do pó do mundo” (Pr 8, 22-26). Num outro texto vai falar que a Sabedoria é um “reflexo da luz eterna de Deus” (Pr 7, 26).
3 – Novo Testamento, como continuação conseqüente das idéias do Antigo Testamento: São João pode ter usado a palavra Logos para indicar a própria natureza de Cristo, explicada à luz da evolução da noção vétero-testamentária da revelação divina: Palavra de Deus – Dt 30, 11-14; 32, 47; Sl 147, 19; no Novo Testamento os sinóticos empregam o termo, Logos, para “a boa-nova” – Mc 2, 2; 4, 33; 16, 20; Lc 1, 2; 5, 1, embora com reserva. Temos ainda : “Mensagem de Deus”, At 4, 31; 6, 2; “Deus envia seu Logos”, Sl 106, 20. No Logos do Prólogo São João vê o supremo revelador do Deus invisível (Jo 1, 18) e ao mesmo tempo, numa pessoa da mesma essência, o próprio conteúdo objetivo da revelação.
A atribuição a Jesus do título Logos é, certamente, antes fruto de uma reflexão teológica, que pressupõe também a experiência litúrgica da soberania do Cristo. Ele, Cristo, não traz a Palavra, Ele é a Palavra. No evangelho de João, a idéia teológica anunciada acerca do Logos conduz diretamente ao Logos que se encarnou em Jesus. Deus falava no Antigo Testamento à revelação por excelência que é o Filho, reflexo da glória divina. O que Jesus faz é o que ele mesmo é.
O autor, que colocou este prólogo no começo de seu Evangelho sabe que, ao designar a pessoa histórica de Jesus de Nazaré como o Logos, anuncia algo tão radicalmente e tão novo que pode, serenamente, sem temer um mal entendido filosófico e especulativo, tomar e utilizar o que, no tocante ao Logos, autores não cristãos haviam ensinado em sua época ou ainda antes. Quando o evangelista fala do Logos pensa automaticamente em Jesus de Nazaré encarnado, no Verbo feito carne, e que é nesta vida humana de Jesus, a revelação definitiva de Deus ao mundo, algo impensável fora do cristianismo, mesmo que empregue o mesmo termo. Não é o Logos estóico abstrato, nem o Logos mitológico; mas um Logos que se torna homem e que, justamente por esta razão, é o Logos.
João sustenta que os gregos falavam do Logos sem conhecê-lo, porquanto estes ignoravam o Logos feito carne. Porém, de um ponto de vista puramente formal, o que eles ensinavam acerca dele era exato. Nisto consiste o universalismo do Evangelho de João: ver a Cristo onde pagãos ensinavam uma verdade; este mesmo Cristo que, num momento determinado da história, se fez homem.
Logo, podemos dizer que: para o Novo Testamento a cristologia do Logos é constituída pelos dois elementos seguinte: o primordial é a certeza de ser a vida de Jesus o centro de toda a revelação de Deus, portanto a certeza de que Jesus é, em sua própria pessoa, aquilo que ele prega e ensina; com o auxilio do relato do Gênesis, que narra a criação pela “Palavra”, uma reflexão teológica acerca da origem de toda a revelação se apóia sobre esta certeza. O elemento secundário é a utilização de especulações contemporâneas sobre as hipóstases divinas. No entanto, esta utilização não chega a um universalismo sincretista, mas a um universalismo propriamente cristão.


O VERBO NOS ESCRITOS DOS PADRES APOLOGISTAS


Os padres apologistas, entre os quais estão São Justino, Taciano e Teófilo de Antioquia, padres do segundo século da era cristã que receberam este nome por causa de seus escritos mais conhecidos, intitulados Apologias por sustentarem uma defesa do Cristianismo diante de pagãos e judeus, foram também os primeiros a tentarem esboçar uma explicação intelectualmente satisfatória da relação de Cristo para com Deus Pai. A solução que eles propuseram, reduzida aos pontos essenciais, foi que, enquanto pré-existente, Cristo foi o pensamento ou a mente do Pai, e, enquanto manifestado na Criação e na revelação, foi sua extrapolação ou expressão.



S. JUSTINO


O ponto de partida de Justino é que a razão ou Logos germinal é aquilo que une os homens a Deus e lhes dá conhecimento d’Ele. Antes da vinda de Cristo os homens possuíam como que sementes do Logos e foram capazes de chegar a facetas fragmentárias da verdade. O Logos, porém, agora, "tomou forma e se fez carne" em Jesus Cristo, encarnando-se inteiramente n’Ele". O Logos é aqui concebido como a inteligência ou o pensamento racional do Pai; mas Justino afirmou que Ele não era distinto do Pai somente pelo nome, mas era numericamente distinto também.

Que o Verbo é outro que não o Pai pode ser mostrado:

A – Pelas aparições de Deus no Velho Testamento, como por exemplo, a Abraão entre os carvalhos de Manbré, o que sugere que "abaixo do Criador de todas as coisas, existe um outro que é, e é chamado, Deus e Senhor", já que é inconcebível que o "Mestre e Pai de todas as coisas tivesse abandonado todos os seus afazeres supra celestes e se tornado visível em um diminuto recanto do mundo".

B – Pelas freqüentes passagens do Velho Testamento, como por exemplo, em Gênesis 1, 26: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança", que representam Deus como que conversando com um outro, que presumivelmente é um ser racional como Ele mesmo.

C – Pelos textos que tratam da sabedoria, como Provérbios 8,22 e seguintes: "O Senhor possuiu-me no início de seus caminhos, desde o princípio, antes que fizesse suas obras. Na eternidade fui concebida, desde épocas antigas, antes que a terra fosse feita", já que todos concordam que o gerado é diverso do gerante.

O Verbo é divino Embora divers

o do Pai, o Verbo é divino, diz São Justino: "Sendo Verbo e primogênito de Deus, Ele também é Deus". "Assim, portanto, Ele é adorável, Ele é Deus", e "nós adoramos e amamos, depois de Deus, o Logos derivado de Deus incriado e inefável, vendo que por nossa causa Ele se fêz homem".

As funções do Logos

À parte a Encarnação, as funções especiais do Logos são, de acordo com Justino, ser o agente do Pai em criar e ordenar o Universo, e revelar a verdade aos homens.

A natureza do Logos

No que diz respeito à sua natureza, enquanto os outros seres são coisas feitas ou criaturas, o Logos é "gerado" de Deus, sua "criança" e "filho único": "Antes de todas as criaturas", diz ainda Justino, "Deus gerou, no início, uma potência racional além de si mesmo".

Por esta geração, entretanto, Justino não se refere à origem última do Logos ou razão do Pai, o que ele não discute; mas sua emissão para os propósitos da criação e revelação.
Esta geração ou emissão não acarreta, porém, nenhuma separação entre o Pai e seu Filho. Nós observamos em muito a mesma coisa quando um fogo é acendido de outro: o fogo do qual é acendido não é diminuído, mas permanece o mesmo, enquanto que o fogo que é acendido dele é visto existir por si mesmo sem diminuir o fogo original.

TACIANO

Taciano foi discípulo de São Justino e, como seu mestre, falou do Logos como existente do Pai como sua racionalidade e depois, por um ato de Sua vontade, sendo gerado.
Como Justino, também enfatizou a unidade essencial do Verbo com o Pai, usando a mesma imagem da luz acendida com a luz.
Taciano colocou num relevo mais claro do que Justino o contraste entre os dois estados sucessivos do Logos. Antes da criação Deus estava sozinho, o Logos sendo imanente n’Ele como sua potencialidade para criar todas as coisas. Mas no momento da criação Ele saltou fora do Pai como sua "obra primordial". Uma vez gerado, "sendo espírito derivado de espírito, racionalidade de potência racional", Ele serviu como o instrumento do Pai na criação e no governo do Universo, em particular, fazendo os homens à divina imagem.


TEÓFILO DE ANTIOQUIA

A doutrina de Teófilo de Antioquia segue uma linha semelhante à de São Justino. O Verbo não é Filho de Deus no sentido em que os poetas e os romancistas relatam o nascimento dos filhos dos deuses, mas no sentido em que antes que as coisas tivessem existência, Deus o tinha como Seu conselheiro, Sua própria inteligência e pensamento. Mas quando Deus quis criar o que Ele tinha planejado, Ele engendrou o Seu Verbo, o primogênito de toda a Criação.
Assim como Justino, Teófilo considera que as teofanias do Velho testamento foram, de fato, aparições do Logos.
Deus em si mesmo não pode estar contido no espaço e no tempo, e era precisamente a função do verbo que Ele gerou manifestar sua mente e vontade na ordem criada.

Diante disso podemos dizer:

A. A expressão Deus Pai é entendida como a divindade: Para todos os Apologistas a expressão "Deus Pai" não se refere à primeira pessoa da Santíssima Trindade, mas à divindade una considerada como autora de tudo o que existe.

B. A geração do Logos é datada: É comum a todos os Apologistas datarem a geração do verbo, e conseqüentemente, a atribuição que lhe é devida do título de Filho, não a partir de sua origem no seio da Divindade, mas a partir de sua emissão ou geração tendo em vista os propósitos da Criação, Revelação e Redenção.

Conclusão

Tudo foi feito por meio d’Ele e sem Ele, nada foi feito. Em Cristo está concentrada toda a divindade e revelação, pois foi por Ele e por meio da ação de Deus n’Ele que todas as coisas existiram antes de tudo e de todos. Cristo é a revelação do Pai em meio à criação como vem elucidar o apóstolo João.

Tendo percorrido este caminho de reflexão podemos concluir que:

1 – João, tendo influências ou não de outras culturas, utilizou-se de um termo já usado em meio às culturas existentes para dizer que Cristo é o Logos de Deus que, encarnado revela o Pai em toda sua plenitude.
2 – Jesus é a Palavra criadora do Gêneses retomado em João como a Nova Gêneses;
3 – Cristo é a semente do Verbo lançado no meio da criação e aquele que dela se apropriar chega a obter frutos, frutos esses que culminam no conhecimento de Deus através de Cristo, Verbo eterno do Pai.



Bibliografia:


BÍBLIA DE JERUSALÉM. Cod.José Bortoline. Paulus, São Paulo. 2002.
TEB. Cod. Fidel Gárcia Rodrigues. Loyola. 2002.
CULLMANN, Oscar. Cristologia do Novo Testamento. Editora Custom Ltda. São Paulo, 2004. p. 327-352.
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FEUILLET, A. O prólogo do quarto Evangelho. Paulinas. São Paulo. 1971. p. 213-280.
S. JUSTINO, 1 Apol. 32,8; 5,4.
_________, Idem: 2 Apol. 8,1; 10,2; 13,3; 10,1
_________, Dial. 128,4
_________, Dial. 56,4; 60,2; 62,2; 129,3 ss; 61,3-7; 62,4
_________, 1 Apol. 63,15;
_________, Idem: Dial. 63,5;
_________, Idem: 2 Apol. 13,4
_________, 1 Apol. 59; 64,5; 5,4; 46; 63,10;
_________, Idem: 2 Apol. 6,3; 10,1
_________, 2 Apol. 6,3;
_________, Dial. 62,4; 61,1; 100,2; 125,3; 105,1; 61,2;
_________, Idem:1 Apol. 21,1
TACIANO, Oratio ad Hel. 5,1; 7,1
TEÓFILO, Antioqueno: Ad Autolicum 2, 22
J.N.D.Kelly. A Santíssima Trindade nos escritos dos Santos Padres dos primeiros séculos. São Paulo. 1979.
GUIMARÃES, Orsely. Heráclito, o Pensador do Logos. Cadernos do ICHF – julho de 1989.
BORHEIM, Gerd (org.). Os Filósofos Pré-Socráticos. Ed. Cultrix.
Pré-Socráticos – Coleção “Os Pensadores” – Abril Cultural.
Châtelet, François. A Filosofia Pagã, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1973.
O pensamento de Epíteto, Editora êris, São Paulo, 1959.
Os Pensadores, volume V, Abril Cultural.
SCIACCA, M.F. História da Filosofia. Editora Mestre Jou, São Paulo, 1967.
SÊNECA. Obras. Editora Tecnoprint S.A.

Dia Nacional da Juventude - DNJ - 25 anos

Amanhã aqui no Brasil se celebrará o 25º DNJ - Dia Nacional da Juventude - promovido pelo Setor Juventude da CNBB.
Para celebrar a data, o Setor Juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou uma mensagem, assinada pelo bispo referencial do setor, Dom Eduardo Pinheiro, e pelo assessor nacional, Pe. Carlos Sávio da Costa, na qual parabenizam todos os jovens brasileiros.
"Parabéns a todos aqueles e aquelas que, durante esses anos, não só mantiveram acesa a chama deste evento, mas, através dele, impulsionaram um olhar mais carinhoso, verdadeiro e respeitoso com relação à nossa juventude", frisam os representantes do Setor Juventude.
"O mês de outubro, dedicado ao aprofundamento da dimensão missionária da nossa vocação de discípulo, foi escolhido para contemplar um dos maiores eventos dos jovens da Igreja em nosso país: o Dia Nacional da Juventude (DNJ). Estamos comemorando 25 anos de sua existência" – ressalta a nota.
"Percebendo a necessidade de proclamar bem alto a boa-nova de Jesus Cristo, este evento de massa vai às ruas e aos grandes espaços públicos para, juntamente com outras expressões de juventude, cantar a força da vida e mostrar a todos o quanto ainda se tem a aprender com o dinamismo juvenil" - afirma ainda o texto.
A mensagem sublinha que "a juventude é portadora de riquezas imensas, sonhos ousados, coração generoso, espiritualidade vibrante, muita energia e criatividade, e não podemos deixar que a violência social e cultural comprometa o presente que Deus nos concede com a vida dos jovens para a vida de nosso povo".
Na conclusão os responsáveis pelo Setor Juventude da CNBB convidam todos os brasileiros a renovarem "a paixão pela juventude motivando-a, sobretudo, à paixão por Aquele que, chamando-nos de amigos, se coloca como o único Caminho, Verdade e Vida".
Lembro-me com alegria desses momentos vividos na Diocese de Propriá-SE. Foram momentos que marcaram não só uma época da Diocese, mas pricipalmente a vida de muitos jovens... jovens esses que não tiveram a vida pautada na religiosidade, mas quem se lembram dos "Encontros de Jovens" que aconteciam todos os anos no mês de outubro, fazendo-nos refletir seriamente sobre a possibilidade de ter sido ali, naquele dia, que pela primeira ou ultima vez, muitos jovens ouviram falar da Pessoa de Jesus.
Espero que esse dia festivo para a Juventude do Brasil possa se perpetuar como um dia de alegria, lutas e esperanças...
* maiores informações: www.cnbb.org.br

21 outubro 2010

Padre Marcelo Rossi - Evangelizador Moderno do ano

É interessante como a vida é cheia de surpresas. Padre Marcelo Rossi recebe no Vaticano das mãos do Papa Bento XVI o prêmio de Evangelizador Moderno do ano, colocando em cheque vários discursos contrários ao seu modo de Evangelizar.
Criticado, contestado, visto como um incentivador de "oba, oba" na Igreja Católica, é reconhecido pela máxima autoridade da Igreja, "calando a boca" de quem por ciúmes não permitiu que ele se aproximasse de Bento XVI na sua visita ao Brasil em 2007. Esperemos que com esse reconhecimento da Igreja Católica ao Padre Marcelo, seja reconhecido que carisma é um dom de Deus concedido para fazer com que as pessoas se sintam atraídas pelo novo, diferente, mesmo que aos olhos de muitos isso não seja bem visto ou compreendido.
Parabéns ao Padre Marcelo e ao Brasil pela diversidade de carismas, e modos e evangelizar. 

18 outubro 2010

Carta do Papa Bento XVI aos Seminaristas

Queridos Seminaristas,



Em Dezembro de 1944, quando fui chamado para o serviço militar, o comandante de companhia perguntou a cada um de nós a profissão que sonhava ter no futuro. Respondi que queria tornar-me sacerdote católico. O subtenente replicou: Nesse caso, convém-lhe procurar outra coisa qualquer; na nova Alemanha, já não há necessidade de padres. Eu sabia que esta «nova Alemanha» estava já no fim e que, depois das enormes devastações causadas por aquela loucura no país, mais do que nunca haveria necessidade de sacerdotes. Hoje, a situação é completamente diversa; porém de vários modos, mesmo em nossos dias, muitos pensam que o sacerdócio católico não seja uma «profissão» do futuro, antes pertenceria já ao passado. Contrariando tais objeções e opiniões, vós, queridos amigos, decidistes-vos a entrar no Seminário, encaminhando-vos assim para o ministério sacerdotal na Igreja Católica. E fizestes bem, porque os homens sempre terão necessidade de Deus – mesmo na época do predomínio da técnica no mundo e da globalização –, do Deus que Se mostrou a nós em Jesus Cristo e nos reúne na Igreja universal, para aprender, com Ele e por meio d’Ele, a verdadeira vida e manter presentes e tornar eficazes os critérios da verdadeira humanidade. Sempre que o homem deixa de ter a noção de Deus, a vida torna-se vazia; tudo é insuficiente. Depois o homem busca refúgio na alienação ou na violência, ameaça esta que recai cada vez mais sobre a própria juventude. Deus vive; criou cada um de nós e, por conseguinte, conhece a todos. É tão grande que tem tempo para as nossas coisas mais insignificantes: «Até os cabelos da vossa cabeça estão contados». Deus vive, e precisa de homens que vivam para Ele e O levem aos outros. Sim, tem sentido tornar-se sacerdote: o mundo tem necessidade de sacerdotes, de pastores hoje, amanhã e sempre enquanto existir.

O Seminário é uma comunidade que caminha para o serviço sacerdotal. Nestas palavras, disse já algo de muito importante: uma pessoa não se torna sacerdote, sozinha. É necessária a «comunidade dos discípulos», o conjunto daqueles que querem servir a Igreja de todos. Com esta carta, quero evidenciar – olhando retrospectivamente também para o meu tempo de Seminário – alguns elementos importantes para o vosso caminho a fazer nestes anos.

1. Quem quer tornar-se sacerdote, deve ser sobretudo um «homem de Deus», como o apresenta São Paulo (1 Tm 6, 11). Para nós, Deus não é uma hipótese remota, não é um desconhecido que se retirou depois do «big-bang». Deus mostrou-Se em Jesus Cristo. No rosto de Jesus Cristo, vemos o rosto de Deus. Nas suas palavras, ouvimos o próprio Deus a falar conosco. Por isso, o elemento mais importante no caminho para o sacerdócio e ao longo de toda a vida sacerdotal é a relação pessoal com Deus em Jesus Cristo. O sacerdote não é o administrador de uma associação qualquer, cujo número de membros se procura manter e aumentar. É o mensageiro de Deus no meio dos homens; quer conduzir a Deus, e assim fazer crescer também a verdadeira comunhão dos homens entre si. Por isso, queridos amigos, é muito importante aprenderdes a viver em permanente contacto com Deus. Quando o Senhor fala de «orar sempre», naturalmente não pede para estarmos continuamente a rezar por palavras, mas para conservarmos sempre o contacto interior com Deus. Exercitar-se neste contacto é o sentido da nossa oração. Por isso, é importante que o dia comece e acabe com a oração; que escutemos Deus na leitura da Sagrada Escritura; que Lhe digamos os nossos desejos e as nossas esperanças, as nossas alegrias e sofrimentos, os nossos erros e o nosso agradecimento por cada coisa bela e boa, e que deste modo sempre O tenhamos diante dos nossos olhos como ponto de referência da nossa vida. Assim tornamo-nos sensíveis aos nossos erros e aprendemos a trabalhar para nos melhorarmos; mas tornamo-nos sensíveis também a tudo o que de belo e bom recebemos habitualmente cada dia, e assim cresce a gratidão. E, com a gratidão, cresce a alegria pelo fato de que Deus está perto de nós e podemos servi-Lo.

2. Para nós, Deus não é só uma palavra. Nos sacramentos, dá-Se pessoalmente a nós, através de elementos corporais. O centro da nossa relação com Deus e da configuração da nossa vida é a Eucaristia; celebrá-la com íntima participação e assim encontrar Cristo em pessoa deve ser o centro de todas as nossas jornadas. Para além do mais, São Cipriano interpretou a súplica do Evangelho «o pão nosso de cada dia nos dai hoje», dizendo que o pão «nosso», que, como cristãos, podemos receber na Igreja, é precisamente Jesus eucarístico. Por conseguinte, na referida súplica do Pai Nosso, pedimos que Ele nos conceda cada dia este pão «nosso»; que o mesmo seja sempre o alimento da nossa vida, que Cristo ressuscitado, que Se nos dá na Eucaristia, plasme verdadeiramente toda a nossa vida com o esplendor do seu amor divino. Para uma reta celebração eucarística, é necessário aprendermos também a conhecer, compreender e amar a liturgia da Igreja na sua forma concreta. Na liturgia, rezamos com os fiéis de todos os séculos; passado, presente e futuro encontram-se num único grande coro de oração. A partir do meu próprio caminho, posso afirmar que é entusiasmante aprender a compreender pouco a pouco como tudo isto foi crescendo, quanta experiência de fé há na estrutura da liturgia da Missa, quantas gerações a formaram rezando.

3. Importante é também o sacramento da Penitência. Ensina a olhar-me do ponto de vista de Deus e obriga-me a ser honesto comigo mesmo; leva-me à humildade. Uma vez o Cura d’Ars disse: Pensais que não tem sentido obter a absolvição hoje, sabendo entretanto que amanhã fareis de novo os mesmos pecados. Mas – assim disse ele – o próprio Deus neste momento esquece os vossos pecados de amanhã, para vos dar a sua graça hoje. Embora tenhamos de lutar continuamente contra os mesmos erros, é importante opor-se ao embrutecimento da alma, à indiferença que se resigna com o facto de sermos feitos assim. Na grata certeza de que Deus me perdoa sempre de novo, é importante continuar a caminhar, sem cair em escrúpulos mas também sem cair na indiferença, que já não me faria lutar pela santidade e o aperfeiçoamento. E, deixando-me perdoar, aprendo também a perdoar aos outros; reconhecendo a minha miséria, também me torno mais tolerante e compreensivo com as fraquezas do próximo.

4. Mantende em vós também a sensibilidade pela piedade popular, que, apesar de diversa em todas as culturas, é sempre também muito semelhante, porque, no fim de contas, o coração do homem é o mesmo. É certo que a piedade popular tende para a irracionalidade e, às vezes, talvez mesmo para a exterioridade. No entanto, excluí-la, é completamente errado. Através dela, a fé entrou no coração dos homens, tornou-se parte dos seus sentimentos, dos seus costumes, do seu sentir e viver comum. Por isso a piedade popular é um grande patrimônio da Igreja. A fé fez-se carne e sangue. Seguramente a piedade popular deve ser sempre purificada, referida ao centro, mas merece a nossa estima; de modo plenamente real, ela faz de nós mesmos «Povo de Deus».

5. O tempo no Seminário é também e sobretudo tempo de estudo. A fé cristã possui uma dimensão racional e intelectual, que lhe é essencial. Sem tal dimensão, a fé deixaria de ser ela mesma. Paulo fala de uma «norma da doutrina», à qual fomos entregues no Batismo (Rm 6, 17). Todos vós conheceis a frase de São Pedro, considerada pelos teólogos medievais como a justificação para uma teologia elaborada racional e cientificamente: «Sempre prontos a responder (…) a todo aquele que vos perguntar “a razão” (logos) da vossa esperança» (1 Ped 3, 15). Adquirir a capacidade para dar tais respostas é uma das principais funções dos anos de Seminário. Tudo o que vos peço insistentemente é isto: Estudai com empenho! Fazei render os anos do estudo! Não vos arrependereis. É certo que muitas vezes as matérias de estudo parecem muito distantes da prática da vida cristã e do serviço pastoral. Mas é completamente errado pôr-se imediatamente e sempre a pergunta pragmática: Poderá isto servir-me no futuro? Terá utilidade prática, pastoral? É que não se trata apenas de aprender as coisas evidentemente úteis, mas de conhecer e compreender a estrutura interna da fé na sua totalidade, de modo que a mesma se torne resposta às questões dos homens, os quais, do ponto de vista exterior, mudam de geração em geração e todavia, no fundo, permanecem os mesmos. Por isso, é importante ultrapassar as questões volúveis do momento para se compreender as questões verdadeiras e próprias e, deste modo, perceber também as respostas como verdadeiras respostas. É importante conhecer a fundo e integralmente a Sagrada Escritura, na sua unidade de Antigo e Novo Testamento: a formação dos textos, a sua peculiaridade literária, a gradual composição dos mesmos até se formar o cânon dos livros sagrados, a unidade dinâmica interior que não se nota à superfície, mas é a única que dá a todos e cada um dos textos o seu pleno significado. É importante conhecer os Padres e os grandes Concílios, onde a Igreja assimilou, refletindo e acreditando, as afirmações essenciais da Escritura. E poderia continuar assim: aquilo que designamos por dogmática é a compreensão dos diversos conteúdos da fé na sua unidade, mais ainda, na sua derradeira simplicidade, pois cada um dos detalhes, no fim de contas, é apenas explanação da fé no único Deus, que Se manifestou e continua a manifestar-Se a nós. Que é importante conhecer as questões essenciais da teologia moral e da doutrina social católica, não será preciso que vo-lo diga expressamente. Quão importante seja hoje a teologia ecumênica, conhecer as várias comunidade cristãs, é evidente; e o mesmo se diga da necessidade duma orientação fundamental sobre as grandes religiões e, não menos importante, sobre a filosofia: a compreensão daquele indagar e questionar humano ao qual a fé quer dar resposta. Mas aprendei também a compreender e – ouso dizer – a amar o direito canônico na sua necessidade intrínseca e nas formas da sua aplicação prática: uma sociedade sem direito seria uma sociedade desprovida de direitos. O direito é condição do amor. Agora não quero continuar o elenco, mas dizer-vos apenas e uma vez mais: Amai o estudo da teologia e segui-o com diligente sensibilidade para ancorardes a teologia à comunidade viva da Igreja, a qual, com a sua autoridade, não é um pólo oposto à ciência teológica, mas o seu pressuposto. Sem a Igreja que crê, a teologia deixa de ser ela própria e torna-se um conjunto de disciplinas diversas sem unidade interior.

6. Os anos no Seminário devem ser também um tempo de maturação humana. Para o sacerdote, que terá de acompanhar os outros ao longo do caminho da vida e até às portas da morte, é importante que ele mesmo tenha posto em justo equilíbrio coração e intelecto, razão e sentimento, corpo e alma, e que seja humanamente «íntegro». Por isso, a tradição cristã sempre associou às «virtudes teologais» as «virtudes cardeais», derivadas da experiência humana e da filosofia, e também em geral a sã tradição ética da humanidade. Di-lo, de maneira muito clara, Paulo aos Filipenses: «Quanto ao resto, irmãos, tudo o que é verdadeiro, nobre e justo, tudo o que é puro, amável e de boa reputação, tudo o que é virtude e digno de louvor, isto deveis ter no pensamento» (4, 8). Faz parte deste contexto também a integração da sexualidade no conjunto da personalidade. A sexualidade é um dom do Criador, mas também uma função que tem a ver com o desenvolvimento do próprio ser humano. Quando não é integrada na pessoa, a sexualidade torna-se banal e ao mesmo tempo destrutiva. Vemos isto, hoje, em muitos exemplos da nossa sociedade. Recentemente, tivemos de constatar com grande mágoa que sacerdotes desfiguraram o seu ministério, abusando sexualmente de crianças e adolescentes. Em vez de levar as pessoas a uma humanidade madura e servir-lhes de exemplo, com os seus abusos provocaram devastações, pelas quais sentimos profunda pena e desgosto. Por causa de tudo isto, pode ter-se levantado em muitos, e talvez mesmo em vós próprios, esta questão: se é bom fazer-se sacerdote, se o caminho do celibato é sensato como vida humana. Mas o abuso, que há que reprovar profundamente, não pode desacreditar a missão sacerdotal, que permanece grande e pura. Graças a Deus, todos conhecemos sacerdotes convincentes, plasmados pela sua fé, que testemunham que, neste estado e precisamente na vida celibatária, é possível chegar a uma humanidade autêntica, pura e madura. Entretanto o sucedido deve tornar-nos mais vigilantes e solícitos, levando precisamente a interrogarmo-nos cuidadosamente a nós mesmos diante de Deus ao longo do caminho rumo ao sacerdócio, para compreender se este constitui a sua vontade para mim. É função dos padres confessores e dos vossos superiores acompanhar-vos e ajudar-vos neste percurso de discernimento. É um elemento essencial do vosso caminho praticar as virtudes humanas fundamentais, mantendo o olhar fixo em Deus que Se manifestou em Cristo, e deixar-se incessantemente purificar por Ele.

7. Hoje os princípios da vocação sacerdotal são mais variados e distintos do que nos anos passados. Muitas vezes a decisão para o sacerdócio desponta nas experiências de uma profissão secular já assumida. Frequentemente cresce nas comunidades, especialmente nos movimentos, que favorecem um encontro comunitário com Cristo e a sua Igreja, uma experiência espiritual e a alegria no serviço da fé. A decisão amadurece também em encontros muito pessoais com a grandeza e a miséria do ser humano. Deste modo os candidatos ao sacerdócio vivem muitas vezes em continentes espirituais completamente diversos; poderá ser difícil reconhecer os elementos comuns do futuro mandato e do seu itinerário espiritual. Por isso mesmo, o Seminário é importante como comunidade em caminho que está acima das várias formas de espiritualidade. Os movimentos são uma realidade magnífica; sabeis quanto os aprecio e amo como dom do Espírito Santo à Igreja. Mas devem ser avaliados segundo o modo como todos se abrem à realidade católica comum, à vida da única e comum Igreja de Cristo que permanece uma só em toda a sua variedade. O Seminário é o período em que aprendeis um com o outro e um do outro. Na convivência, por vezes talvez difícil, deveis aprender a generosidade e a tolerância não só suportando-vos mutuamente, mas também enriquecendo-vos um ao outro, de modo que cada um possa contribuir com os seus dotes peculiares para o conjunto, enquanto todos servem a mesma Igreja, o mesmo Senhor. Esta escola da tolerância, antes do aceitar-se e compreender-se na unidade do Corpo de Cristo, faz parte dos elementos importantes dos anos de Seminário.

Queridos seminaristas! Com estas linhas, quis mostrar-vos quanto penso em vós precisamente nestes tempos difíceis e quanto estou unido convosco na oração. Rezai também por mim, para que possa desempenhar bem o meu serviço, enquanto o Senhor quiser. Confio o vosso caminho de preparação para o sacerdócio à proteção materna de Maria Santíssima, cuja casa foi escola de bem e de graça. A todos vos abençoe Deus onipotente Pai, Filho e Espírito Santo.



Vaticano, 18 de Outubro – Festa de São Lucas, Evangelista – do ano 2010.



Vosso no Senhor



Benedictus PP XVI

01 outubro 2010

O Nuncantismo Lulesco

"Nunca antes nesse país"... afirma categoricamente nos discursos proferidos nos quatro cantos do planeta o atual presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.
A noção histórica do Presidente Lula é uma noção restrita a ele mesmo, envolta de uma série de fatores que merecem de nossa parte uma reflexão acurada para não deixar que os avanços que hoje acontencem nos diversos setores do Brasil, não tragam consigo o legado histórico de centenas de milhares de pessoas que fizeram do Brasil aquilo que ele hoje o é.
Fazendo uma releitura da obra Educação e Emancipação do filósofo alemãoTheodor Adorno, deparei-me com uma afirmativa que nos faz repensar esses discursos descomprometidos com o passado. Assevera Adorno: "A elaboração do passado como esclarecimento é essencialmente uma tal inflexão em direção ao sujeito, reforçando a sua auto-consciência e, por esta via, também o seu eu. Ela deveria ser concomitante ao conhecimento daqueles inevitáveis truques de propaganda que atingem de maneira certeira aquelas disposições psicológicas cuja existência precisamos pressupor nas pessoas" (Adorno, p. 47).
Essa inflexão histórica deve ter sempre a função de nos lembrar que não somos filhos do acaso histórico, mas trazemos em nós uma carga "genética histórica" e que simplesmente por necesidade de auto afirmação deva ser desconsiderado em seu mais pleno sentido.
Não permitamos que o nuncantismo lulesco nos faça esquecer a contribuição que os cidadãos que compuseram o cenário do passado merecem, bem como toda reverência e respeito, pois se o "nunca antes nesse país" existe é por conta da atuação de todos eles e não de um único ser, que logo se tornará membro desse mesmo passado!

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