04 maio 2009

Profeta Joel

Introdução


Estudar os profetas é de certa forma, fazer um caminho de interiorização da vontade de Deus na vida do povo de Israel, como também trilhar um caminho de conversão interior. Assim perpassando os escritos de Joel, poderemos visualizar um caminho trilhado em tempos difíceis de seca, praga e perseguição da partes dos povos vizinhos. Mas a presença do profeta do Senhor será o ponto chave para uma retomada de caminho de Bênçãos da parte de Deus, pois com o coração convertido e celebrando um culto de penitência diante de Javé, reconhecerão que só o Senhor dos exércitos é forte e poderoso para derrotar os inimigos e repelir as pregas bem como a falta de chuva.

Assim declara o profeta:

O Senhor afeiçoou-se à sua terra, teve compaixão de seu povo; o Senhor respondeu ao seu povo: Vou mandar-vos trigo, vinho e óleo, e deles sereis fartos, e não vos farei mais objeto de opróbrio diante dos pagãos (Jl 2, 18-19).

Joel


Joel foi um dos profetas Menores filho de Fatuel: “Oráculo do Senhor dirigido a Joel, filho de Fatuel” (Jl 1, 1). De Joel, filho de Fatuel, nada se sabe para além do que pode deduzir-se da sua obra. O profeta exerceu o seu ministério em Jerusalém e foi um homem profundamente conhecedor do mundo rural, embora se suponha que não fosse de origem camponesa. De fato, a sua qualidade poética, o conhecimento profundo dos profetas anteriores e a maneira como trata a própria língua, situam-no num ambiente cultural muito mais elaborado.
O seu livro, a nossa única fonte de informações, não menciona nem a época, nem o domicílio, nem a profissão do profeta. Como a sua pregação tem por tema central: Judá e Jerusalém, ele deve ter sido judaíta; parece não ter pertencido à classe sacerdotal “Já não há oferta nem libação no templo do Senhor. Os sacerdotes, servos do Senhor, estão de luto”. “Revesti-vos de sacos, sacerdotes, e batei no peito! Lamentai-vos, ministros do altar! Vinde, passai a noite vestidos de saco, servos de meu Deus!” (Jl 1,9.13).
Deste profeta, o trecho mais conhecido é 3, 1-5. Esses versículos são citados no discurso que Pedro fez no dia de Pentecostes. Assim está disposto nos Atos dos Apóstolos:
Pedro então, pondo-se de pé em companhia dos Onze, com voz forte lhes disse: Homens da Judéia e vós todos que habitais em Jerusalém: seja-vos isto conhecido e prestai atenção às minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, visto não ser ainda a hora terceira do dia. Mas cumpre-se o que foi dito pelo profeta Joel: Acontecerá nos últimos dias - é Deus quem fala -, que derramarei do meu Espírito sobre todo ser vivo: profetizarão os vossos filhos e as vossas filhas. Os vossos jovens terão visões, e os vossos anciãos sonharão. Sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei naqueles dias do meu Espírito e profetizarão. Farei aparecer prodígios em cima, no céu, e milagres embaixo, na terra: sangue fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. E então todo o que invocar o nome do Senhor será salvo. (At 2, 14-21).
Por isso, ele também é chamado o profeta de Pentecostes.

O tema do livro é: Dia de Javé, que se aproxima:

“Publicai o jejum, convocai a assembléia, reuni os anciãos e toda a população no templo do Senhor, vosso Deus, e clamai ao Senhor: Ai, que dia! O dia do Senhor, com efeito, está próximo, e vem como um furacão desencadeado pelo Todo-poderoso” (Jl 1, 14-15).

Divisão

Os seus escritos estão divididos em duas partes: uma invasão de gafanhotos que assola Judá provoca uma liturgia de luto e súplica; Javé responde prometendo o fim da praga e a volta da abundância (1, 2-2, 27). E a descrição em estilo apocalíptico o julgamento das nações e a vitória definitiva de Iahweh e de Israel (3-4).

Historicidade

Desde a antiguidade datava-se o livro antes do cativeiro babilônico, porque entre os inimigos de Judá não são mencionados nem os assírios, nem os babilônicos, nem mesmo os arameus. Muitos autores colocaram-no nos anos da juventude do rei Joás (cerca de 830), porque no livro não é mencionado nenhum rei; outros sob Azarias (cerca de 760), porque no cânon Joel está entre Amós e Oséias, o que o apresentaria como contemporâneo deles, ou sob Ezequias, Manassés ou Josias. Com maior razão, muitos autores mais recentes colocam-no depois do cativeiro babilônico, por causa da situação religiosa – Israel como comunidade de justos é uma idéia tipicamente pós-exílica – e política – ausência do reino das dez tribos; a promessa de que Israel “não mais” estaria debaixo de estrangeiros:

O Senhor respondeu ao seu povo: Vou mandar-vos trigo, vinho e óleo, e deles sereis fartos, e não vos farei mais objeto de opróbrio diante dos pagãos. Afastarei de vós aquele que vem do norte, e lançá-lo-ei para uma terra árida e deserta, sua vanguarda para o mar oriental, e sua retaguarda para o mar ocidental. Exalar-se-á um mau cheiro dali, um cheiro de podridão (porque ele fez grandes coisas!) Não temas, terra, estremece de alegria e de júbilo, porque o Senhor fez grandes coisas. Não temais, animais dos campos, porque as pastagens do deserto reverdecerão, as árvores darão seu fruto, a figueira e a vinha produzirão abundantemente. Alegrai-vos, filhos de Sião, e rejubilai no Senhor, vosso Deus, porque ele vos dá as chuvas do outono no tempo oportuno, e faz cair chuvas copiosas sobre vós, as chuvas do outono e da primavera, como dantes. As eiras se encherão de trigo, os lagares transbordarão de vinho e de óleo novo. Restituir-vos-ei as colheitas devoradas pelo gafanhoto, pelo roedor, pelo devastador e pela lagarta, (esse) meu poderoso exército que mandei contra vós. Comereis abundantemente e vos fartareis, e louvareis o nome do Senhor, vosso Deus, que fez maravilhas em vosso favor; e jamais meu povo será confundido. Sabereis então que estou no meio de Israel, que sou o Senhor, vosso Deus, e que não há outro. E jamais meu povo será confundido. (Jl 2, 19s).


Alguns autores colocam o livro durante o cativeiro babilônico ou mesmo por volta de 300, sob Ptolomeu Soter (M. Treves).


A Exegese


A exegese antiga via, geralmente, nos gafanhotos, uma indicação alegórica de povos inimigos que deviam invadir ou já haviam invadido o país. Para diversos autores modernos trata-se de uma figura apocalíptica, simbolizando os horrores dos últimos tempos (Ap 9). A “communis opinio”, porém vê os gafanhotos como uma praga real, contemporâneo, que se tornou para Joel um ensejo de pregar a penitência e pintar o Dia de Javé. A maior parte dos comentadores identificam a praga como o primeiro sermão com a do segundo, outros consideram a segunda como uma fase mais adiantada em comparação com a primeira: o primeiro descreveria então a presença da praga nos campos; o segundo como a praga se aproxima de Jerusalém. Há também autores que consideram os gafanhotos do primeiro sermão reais os do segundo como uma imagem dos exércitos que, em breve, virão.

1, 2-12 – Joel convoca todos para contemplar o triste espetáculo da natureza destruída por uma praga de gafanhotos; todos foram atingidos e nada restou, nem mesmo o necessário para a liturgia cotidiana.
1, 13-20 – Apelo à penitência e à oração; O luto, o jejum e a súplica formam o grande ato litúrgico que leva a comover Iaweh, o Senhor, a fim de que ele acalme a sua ira e abençoe novamente o povo.
2, 1-11 – O profeta se serve de uma figura, a invasão de gafanhotos, para descrever o Dia do Senhor, isto é, do julgamento em que Deus manifestará a verdade de cada um.
2, 12-17 – A calamidade faz com que o povo se volte para Deus. Este, porém, não quer um rito puramente exterior, mas um profundo movimento coletivo de conversão, pois ele conhece o homem por dentro, e não somente pela aparência.
2, 18-27 – A conversão sincera é abençoada por Deus com novos tempos de abundância. O povo, agora, é convidado a agradecer e louvar a Deus. Refazendo a dignidade do povo, o Senhor refaz também a sua honra.
3, 1-5 – Joel salienta que Deus dará o seu espírito a todos, sem distinção de idade, sexo, condição social. Pelo Espírito, todos reconhecerão o projeto de Deus e viverão de acordo com o projeto divino.
4, 1-8 – A restauração de Israel, supõe o castigo das outras nações que haviam oprimido. O lugar é simbólico, pois Josafá significa: Deus Julga.
4, 9-17 – O julgamento é apresentado como guerra santa, um combate entre Deus e as nações que se opõe ao projeto dele.
4, 18-21 – Com o julgamento começa para o povo de Deus uma era paradisíaca. Doravante o povo terá vida em plenitude, por que o Senhor habitará para sempre no meio dele.

A Teologia

A teologia que perpassa os escritos de Joel nos mostra a condenação dos pecados, tão característica dos profetas antigos, falta em Joel. Ele conhece apenas uma penitencia ritual frente a Deus que é “bom e compassivo, longânime e indulgente” (2, 13). O “Dia de Javé” já não é mais uma peneiração moral, mas traz desagravo para o povo de Deus, vergonha aos pagãos que causaram o dano. Os pagãos não terão parte nas bênçãos futuras; a efusão do Espírito limita-se a Israel. É o particularismo do pós-cativeiro. O valor do livro consiste primordialmente nisto: ele é mais antigo do que o apocalipse homogêneo que possuímos. Tornou-se muito conhecido pela predição de que no Dia de Javé a comunidade de Jerusalém seria transformada pelo Espírito de Deus numa comunidade de extáticos:

Depois disso, acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões. Naqueles dias, derramarei também o meu Espírito sobre os escravos e as escravas. Farei aparecer prodígios no céu e na terra, sangue, fogo e turbilhões de fumo. O sol converter-se-á em trevas e a lua, em sangue, ao se aproximar o grandioso e temível dia do Senhor. Mas todo o que invocar o nome do Senhor será poupado, porque, sobre o monte Sião e em Jerusalém, haverá um resto, como o Senhor disse, e entre os sobreviventes estarão os que o Senhor tiver chamado. (Jl 3, 1-5)
A sua exortação à penitência foi adotada pela liturgia cristã da Quarta-Feira de Cinzas e da Quaresma, a qual conclama os fiéis a, neste tempo forte de encontro com Deus no deserto, converter-se e oferecer a Deus um sacrifício agradável de oração, caridade e penitência:

Por isso, agora ainda - oráculo do Senhor -, voltai a mim de todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos de luto. Rasgai vossos corações e não vossas vestes; voltai ao Senhor vosso Deus, porque ele é bom e compassivo, longânime e indulgente, pronto a arrepender-se do castigo que inflige. Quem sabe se ele mudará de parecer e voltará atrás, deixando após si uma bênção, ofertas e libações para o Senhor, vosso Deus? Chorem os sacerdotes, servos do Senhor, entre o pórtico e o altar, e digam: Tende piedade de vosso povo, Senhor, não entregueis à ignomínia vossa herança, para que não se torne ela o escárnio dos pagãos! Por que diriam eles: onde está o seu Deus? (Jl 2, 12-14.17)
A primeira parte do livro de Joel é um ensinamento sobre o comportamento e a pedagogía de Deus na educação do seu povo ao longo da história. Os grandes desastres julgavam ser o castigo de Deus por causa dos pecados do povo e eram chamados à conversão.

Conclusão

Somente reconhecendo o Senhor como fonte e cume de toda a história e vida de um povo, bem como nossa, podemos fazer a experiência de sermos agraciados com os dons da bondade de Deus, bem como de sua proteção em tempos de adversidade.
O profeta Joel, tem o papel de fazer essa ponte entre o povo e Deus, Deus e povo. Anuncia, denuncia, proclama, testemunha, orienta e faz o povo reconhecer que o Dia do Senhor está próximo, e a mudança de vida é a base para se fazer uma expriência verdadeira de Deus.
Quando o povo se volta para Deus de coração sincero então ele põe em cada coração seu Espírito, impulsionando e dando força para vencer toda e qualquer tribulação.
Sendo assim, podemos concluir que em Deus, segundo Joel, está contida: as bênçãos na adversidade, a vitória nos conflitos, a justiça no juízo e julgamento.
Tudo isso para que o povo saiba então que estou no meio de Israel, que sou o Senhor, vosso Deus, e que não há outro. E jamais meu povo será confundido.(Jl 2, 27).
Bibliografia:

FREITAS Jacir de Farias – Profetas e Profetizas na Bíblia, Teologias Bíblicas 5, Paulinas, São Paulo-SP, 2006.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Cod.José Bortoline. Paulus, São Paulo. 2002.
TEB. Cod. Fidel Gárcia Rodrigues. Loyola. 2002.
Os Profetas e os livros Proféticos. Paulinas, São Paulo. 1992.
SELLIN, E. FOHRER, G. Abdias. Im: Introdução ao Antigo Testamento. Paulus, São Paulo. 2007.

Alegrai-vos...

Para captarmos bem o segredo da alegria insondável de Jesus, e que lhe é propria, vamos mergulhar no Evangelho de João e levantar o véu de tal segredo, ao referir-nos as palavras ditas na intimidade pelo Filho de Deus feito Homem. Se Jesus, de fato, irradia tanta serenidade, segurança, alegria e disponibilidade, é por causa do amor inefável com que ele sabe ser amado pelo seu Pai. No seu batismo, às margens do Jordão, esse amor, presente desde o primeiro instante da sua encarnação, então se manifesta “Tu és o meu filho amado; em ti eu me comprazo”. Esta certeza era inseparável da consciência de Jesus. Era uma presença que nunca o abandonava, e um conhecimento íntimo que o enche plenamente: “O Pai conhece-me e eu O conheço”. É uma permuta incessante e total: “O que é meu é teu e o que é teu é meu”. O Pai outorgou ao Filho o poder de julgar, bem como o de dispor a vida. É uma habitação recíproca: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim”. Em retribuição, o Filho consagra um amor sem limites: “Eu amo o Pai e faço o que o Pai me ordenou”. Ele sempre faz a vontade do Pai e isso é seu alimento. E a repercursão, na sua consciência de homem, do amor, daquele amor que ele experimentou sempre como Deus, no seio do Pai o faz declarar: “Tu me amastes antes da fundação do mundo”. Eis o segredo da vida trinitária: o Pai aparece aí como aquele que se dá ao Filho, sem reservas nem iterferencias, num impulso de alegria e generosidade; e o Filho, como aquele que se dá do mesmo modo ao Pai, com um impulso de gratidão alegre, no Espírito.
Donde, os discipulo, bem como todos os demais que vierem a acreditar em Cristo, são chamados a participar desta alegria. Jesus deseja que eles tenham em si próprios a sua mesma alegria em plenitude: “Eu dei-lhes a conhecer o teu nome e dá-lo-ei a conhecer ainda, para que o amor com que me amastes esteja neles e eu esteja neles”.

Esta alegria de permancer no amor de Deus começa já aqui, a partir deste mundo.

As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por homens, que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao género humano e à sua história.

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