13 março 2008

DEUS MORREU NA CRUZ?

Considerando que Jesus Cristo é plenamente Deus, que nasceu possuidor de duas naturezas e duas vontades, sendo Maria mãe de Deus - porque em Jesus essas duas naturezas não se dissociam - podemos igualmente dizer que Deus morreu na cruz?Sim, é correto dizer que Deus morreu na cruz pelo resgate de Suas criaturas! Mas devemos entender corretamente - para não cairmos no erro de pensar e ensinar que Deus deixou de existir ou foi diminuído na Sua Glória - que a natureza humana de Cristo pertence propriamente à pessoa divina do Filho de Deus que a assumiu.
Tudo que Jesus Cristo é, e nela faz, pertence ao "uno da Trindade" -Catecismo # 470. Foi Deus quem assumiu a condição humana.O Cristo é um engendramento de Deus, ele não é um ser criado. Deus assumiu a forma humana para levantar a punição que Ele mesmo havia imposto à humanidade após o pecado original cometido por Adão.Deus se une à natureza humana para regenerá-la. Aquele que não conhecia o pecado se fez maldição na cruz para retirar o pecado do mundo.
A Segunda Pessoa da Trindade assumiu a natureza humana de maneira que tudo o que ocorre a Jesus (como nascer, sofrer, morrer, etc) se atribui a Sua pessoa que é divina. Há uma verdadeira união entre as três pessoas da Trindade e uma união hipostática na Segunda-Pessoa da Trindade que é consubstancial ao Pai. Desse modo ensina o Catecismo católico - a doutrina oficial da Igreja: "tudo na humanidade de Jesus Cristo deve ser atribuído a sua pessoa divina como a seu próprio sujeito, não somente os milagres, mas também os sofrimentos, e mesmo a morte” - Catecismo # 468. Exemplo dessa definição: Jesus nasce de Maria, portanto Deus nasceu de Maria.
Por isso Maria Santíssima é Mãe de Deus. Sabemos que Deus existe eternamente, e não começou a existir há dois mil. E sabemos que seu Verbo existe desde antes da fundação do mundo. Não obstante, há 2000 anos, Deus assumiu a forma humana. Sendo a pessoa de Jesus Cristo sempre divina, Deus morreu na Cruz, por nós! "Oh Cristo Deus, que por sua morte derrota a morte!" (Catecismo # 469) Devemos entender que quando dizemos que alguém nos deixou, morreu, não queremos dizer que a pessoa deixou de existir, mas sim que chegou ao término a sua vida terrestre.
O erro está em comparar o fato de morrer, com deixar de existir.Deus nunca deixou de existir, não obstante, submeteu-Se, como Segunda Pessoa da Trindade, ao processo da encarnação, morte e ressurreição. Algo que constitui o cerne da fé cristã, uma Verdade revelada, um mistério da fé e conseqüentemente um mistério da salvação - para o alivio da nossa pena.Conforme as profecias. Ele, como sacerdote e oferta, assumiu de modo vicário, a morte que pendia sobre a humanidade apartada de Deus pela queda do homem primevo, Adão. Somente Deus poderia suportar esse julgamento e vencer o aniquilamento. Fazendo de um ritual até então finito e natural um gesto infinito e de alcance universal, como decorrência de Sua onipotência! Ao invés de punir a humanidade, Deus resgatou a humanidade "na" e "como" Segunda Pessoa da Trindade que é, desse modo, a porta da Salvação.Somente Deus poderia operar o nosso resgate dessa forma. Não há crueldade nem malignidade na oblação vicária, porque ela foi realizada sobre quem podia suportá-la e para o resgate de todos. Demonstrando o caráter transitório da morte e o poder de Deus sobre ela. Massacrado o Cristo na cruz, Deus assume as chagas e as dores do mundo.
O Cristo é aquele que resgata e regenera a humanidade decaída pelo pecado original. Morreu Deus na cruz, para que a morte fosse derrotada! Para que ganhássemos a vida eterna! Para a vida, finalmente, jorrar e jorrar em abundância santificando os homens e seus afazeres no mundo!

Everton N. Jobim - Cientista Político e Professor de Antropologia Social pela PUC/RJ e UFRJ/MN

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