22 dezembro 2010

O Sacerdócio no Catecismo III Parte

1581. Este sacramento configura o ordinando com Cristo por uma graça
especial do Espírito Santo, a fim de servir de instrumento de Cristo em favor da
sua Igreja. Pela ordenação, recebe-se a capacidade de agir como representante de
Cristo, cabeça da Igreja. na sua tríplice função de sacerdote, profeta e
rei.

1582. Tal como no caso do Baptismo e da Confirmação, esta participação
na função de Cristo é dada uma vez por todas. O sacramento da Ordem confere,
também ele, um carácter espiritual indelével, e não pode ser repetido nem
conferido para um tempo limitado (78).

1583. Uma pessoa validamente ordenada pode, é certo, por graves
motivos, ser dispensada das obrigações e funções decorrentes da ordenação, ou
ser proibido de as exercer (79): mas já não pode voltar a ser leigo, no sentido
estrito (80), porque o carácter impresso pela ordenação fica para sempre. A
vocação e a missão recebidas no dia da ordenação marcam-no de modo
permanente.

1584. Uma vez que é Cristo, afinal, quem age e opera a salvação
através do ministro ordenado, a indignidade deste não impede Cristo de agir
(81). Santo Agostinho di-lo numa linguagem vigorosa:


«Quanto ao ministro orgulhoso, deve ser contado juntamente com o diabo. E nem
por isso se contamina o dom de Cristo: o que através de tal ministro se
comunica, conserva a sua pureza: o que passa por ele mantém-se límpido e chega
até à terra fértil. [...] De facto, a virtude espiritual do sacramento é
semelhante à luz: os que devem ser iluminados recebem-na na sua pureza, e ela,
embora atravesse seres manchados, não se suja» (82).

A GRAÇA DO ESPÍRITO SANTO
1585. A graça do Espírito Santo própria deste sacramento consiste numa
configuração com Cristo, Sacerdote, Mestre e Pastor, de quem o ordenado é
constituído ministro.

1586. Para o bispo, é, em primeiro lugar, uma graça de fortaleza
(«Spiritum principalem – Espírito soberano», isto é, Espírito que faz
chefes, pede a oração de consagração do bispo, no rito latino (83)): a graça de
guiar e defender, com força e prudência, a sua Igreja, como pai e pastor, com
amor desinteressado para com todos e uma predilecção pelos pobres, os enfermos e
os necessitados (84). Esta graça impele-o a anunciar o Evangelho a todos, a ser
o modelo do seu rebanho, a ir adiante dele no caminho da santificação,
identificando-se na Eucaristia com Cristo sacerdote e vítima, sem recear dar a
vida pelas suas ovelhas:


«Ó Pai, que conheceis os corações, concedei ao vosso servo, que escolhestes
para o episcopado, a graça de apascentar o vosso santo rebanho e de exercer de
modo irrepreensível, diante de Vós, o supremo sacerdócio, servindo-Vos noite e
dia: que ele torne propício o vosso rosto e ofereça os dons da vossa santa
Igreja: tenha, em virtude do Espírito do supremo sacerdócio, o poder de perdoar
os pecados segundo o vosso mandamento, distribua os cargos segundo a vossa ordem
e desligue de todo o vínculo pelo poder que Vós destes aos Apóstolos: que ele
Vos agrade pela sua doçura e coração puro, oferecendo-Vos um perfume agradável,
por vosso Filho Jesus Cristo...» (85).

1587. O dom espiritual, conferido pela ordenação presbiterial, está
expresso nesta oração própria do rito bizantino. O bispo, impondo as mãos, diz,
entre outras coisas:


«Senhor, enchei do dom do Espírito Santo aquele que Vos dignastes elevar ao
grau de presbítero, para que seja digno de se manter irrepreensível diante do
vosso altar, de anunciar o Evangelho do vosso Reino, de desempenhar o ministério
da vossa Palavra de verdade, de Vos oferecer dons e sacrifícios espirituais, de
renovar o vosso povo pelo banho da regeneração; de modo que, ele próprio, vá ao
encontro do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo, vosso Unigénito, no dia
da sua segunda vinda, e receba da vossa imensa bondade a recompensa dum fiel
desempenho do seu ministério» (86).

1588. Quanto aos diáconos, «fortalecidos pela graça sacramental,
servem o povo de Deus na "diaconia" da liturgia, da palavra e da caridade, em
comunhão com o bispo e o seu presbitério» (87).
1589. Perante a grandeza da graça e do múnus sacerdotais, os santos
doutores sentiram o apelo urgente à conversão, a fim de corresponderem, por toda
a sua vida, Àquele de Quem o sacramento os constituiu ministros. É assim que São
Gregário de Nazianzo, ainda jovem presbítero. exclama:


«Temos de começar por nos purificar, antes de purificarmos os outros: temos
de ser instruídos, para podermos instruir: temos de nos tornar luz para alumiar,
de nos aproximar de Deus para podermos aproximar d'Ele os outros, ser
santificados para santificar, conduzir pela mão e aconselhar com inteligência»
(88). «Eu sei de Quem somos ministros, a que nível nos encontramos e para onde
nos dirigimos. Conheço as alturas de Deus e a fraqueza do homem, mas também a
sua força» (89). [Quem é, pois, o sacerdote? Ele é] «o defensor da verdade,
eleva-se com os anjos glorifica com os arcanjos, faz subir ao altar do Alto as
vítimas dos sacrifícios, participa no sacerdócio de Cristo, remodela a criatura,
restaura [nela] a imagem [de Deus], recria-a para o mundo do Alto e, para dizer
o que há de mais sublime, é divinizado e diviniza» (90).

E diz o santo Cura d'Ars: «É o sacerdote quem continua a obra da redenção na
terra»... «Se bem se compreendesse o que o sacerdote é na terra, morrer-se-ia,
não de medo, mas de amor». [...] «O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus»
(91).

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