Um evento muito esperado pelos detentos e pelos funcionários do
cárcere, levando em consideração que a vida dentro dos institutos penais na
Itália piorou sensivelmente nos últimos anos por causa da superlotação, da
falta de funcionários, e da excessiva presença de estrangeiros e de pessoas
provenientes das camadas mais baixas da sociedade, e do corte de verbas
destinadas à gestão das estruturas penitenciárias.
No seu discurso aos presos do Papa antes de tudo falou da sua
alegria e emoção em visitar os detentos, visita que se realiza a poucos dias do
Natal.
“Estava na prisão e vieste me visitar” (Mt 25,36). As palavras
do juízo final, narradas pelo evangelista Mateus, exprimem em plenitude o
sentido da minha visita de hoje entre vocês. Portanto, onde se encontra um
faminto, um estrangeiro, um doente, um encarcerado, ali se encontra Cristo
mesmo que espera a nossa visita e a nossa ajuda. Essa é a razão principal que
me deixa feliz em estar aqui, para rezar, dialogar e escutar”.
O próprio Filho de Deus, o Senhor Jesus – continuou o Papa – fez
a experiência do cárcere, foi submetido a um julgamento diante de um tribunal e
padeceu a mais feroz condenação, a pena de morte. Recordando a sua recente
viagem ao Benin, durante a qual assinou a Exortação Apostólica Pós-sinodal
Africae munus (O compromisso da África) o Santo Padre destacou um trecho do
documento no qual reafirma a atenção da Igreja pela justiça nos Estados:
“É preciso também banir os casos de erro da justiça e os maus
tratos aos prisioneiros, as numerosas ocasiões de não aplicação da lei, que
correspondem a uma violação dos direitos humanos, e as detenções que só
tardiamente ou nunca chegam a um processo. A Igreja reconhece a sua missão
profética junto de quantos acabam envolvidos pela criminalidade, sabendo da sua
necessidade de reconciliação, de justiça e de paz . Os presos são pessoas
humanas que, apesar do seu crime, merecem ser tratadas com respeito e
dignidade; precisam da nossa solicitude”. (n.83)
A justiça humana e a divina – continuou Bento XVI – são muito
diversas. Certamente, os homens não são capazes de aplicar a justiça divina,
mas devem pelo menos olhar para ela, procurar colher o espírito profundo que a
anima, para que ilumine também a justiça humana, para evitar – como ocorre
certas vezes – que o preso se torne um excluído. Deus, de fato, é Aquele que
proclama a justiça com força, mas que, ao mesmo tempo, cura as feridas com o
bálsamo da misericórdia.
Justiça e misericórdia, justiça e caridade, preceitos da
doutrina social da Igreja, são duas realidades diferentes somente para nós
homens - disse ainda o Papa -, que distinguimos atentamente um ato justo de um
ato de amor.
“Justo para nós é “o que é devido ao outro”, enquanto
misericordioso é o que é doado por bondade. E uma coisa parece excluir a outra.
Mas para Deus não é assim: n’Ele justiça e caridade coincidem; não há uma ação
justa que não seja também ato de misericórdia e de perdão e, ao mesmo tempo,
não existe uma ação misericórdiosa que não seja perfeitamente justa”.
Quão longe é a lógica de Deus da nossa! – sublinhou o Papa. E
como é diferente do nosso modo o seu modo de agir! O Senhor nos convida a
colher e observar o verdadeiro espírito da lei, para lhe dar pleno cumprimento
no amor para aqueles que necessitam. “Pleno cumprimento da lei é o amor", escreve
São Paulo: a nossa justiça será mais perfeita, se animada pelo amor a Deus e ao
próximo.
O Papa destacou em seguida que o sistema de detenção gira em
torno de dois pontos principais, ambos importantes: por um lado, proteger a
sociedade contra eventuais ameaças, de outro reintegrar quem errou, sem
pisotear a dignidade e excluí-lo da vida social. Ambos os aspectos têm a sua
relevância e não devem criar um "abismo" entre a realidade na prisão
e aquela pensada pela lei, que prevê como um elemento chave a função
reeducadora da pena e o respeito dos direitos e da dignidade das pessoas. A
vida humana pertence somente a Deus, que nos deu, e não é abandonada à mercê de
ninguém, nem mesmo ao nosso livre arbítrio! Somos chamados a preservar a pérola
preciosa da nossa vida e a dos outros.
O Papa sublinhou ainda que a superlotação e a degradação das
prisões podem tornar ainda mais amarga a detenção: recebi várias cartas de
presos que sublinham isso. É importante que as instituições promovam uma
cuidadosa análise da situação da prisão hoje, verifiquem as estruturas, os
recursos, o pessoal, de modo que os prisioneiros não cumpram jamais "uma
dupla pena"; é importante promover um desenvolvimento do sistema
carcerário, que respeitando a justiça, seja cada vez mais adequado às
necessidades da pessoa humana, com a utilização também de penas não detentivas
ou a modalidades diferentes de detenção.
O Papa conclui suas palavras recordando que celebramos o quarto
domingo do tempo de Advento. O Natal do Senhor está próximo, e fez votos de que
reacenda de esperança e de amor os corações. O Menino de Belém será feliz
quando todos os homens retornarem a Deus com o coração renovado. “Vamos
pedir-lhe no silêncio e na oração sermos todos liberados da prisão do pecado,
da soberba e do orgulho; cada um tem necessidade de sair desta prisão interior
para ser verdadeiramente livre do mal, das angústias e da morte. Somente aquele
Menino deitado na manjedoura é capaz de doar a todos essa plena libertação!.
O Papa concluiu dizendo que a Igreja apoia e encoraja todos os
esforços para garantir a todos uma vida digna e que está próxima a cada um
deles, às suas famílias, aos seus filhos, aos seus jovens, aos seus anciãos e
todos leva no coração diante de Deus. (SP)
Roma, 18 de
Dezembro de 2011.
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